terça-feira, 28 de julho de 2009

Who's gonna drown in your blue sea?


A vida nos prega peças, não?
Quando achamos que mudamos, que nos reinventamos, que engrossamos a carapuça que nos separa do mundo real, e porque não, cruel; e finalmente podemos passar a viver sem expectativas maiores, frustrações furtivas...
Vemos-nos no mesmo ponto de partida de outrora, fragilizados, enxergando em rostos novos atitudes praticadas e sofridas no passado.


Eu não queria sofrer, eu estava indo tão bem, dama de gelo, domínio dos meus sentimentos, vestida de Meursault dos pés à cabeça. Aí vem esse furacão soprar para longe a ilusão de ser inatingível que, agora percebo, tão fracamente fora construída.
Simplesmente não vale a pena, ele não vale a pena, não vale.
Tenho de me repetir esse mantra diariamente, às vezes em voz alta, no trânsito, no trabalho, no supermercado...
Porque a vida ia bem sem ele, porque a vida, sem opções, rotina interminável, burocrática, me dava tudo o que eu precisava.
Para quê sonhar de novo?


Tenho horror de me magoar, me apavora o simples ato de tentar.
Ele não gosta de mim, gosta? Não sei dizer, todas as suas palavras são enigmáticas, e o mesmo ar que me falta por vontade de chorar quando sou recebida com um simples “oi”, me falta também quando surpreendida pelas suas palavras que não alcançam tradução, não por serem misteriosas, mas por conta de nossa eterna babel de línguas soltas e tão perfeitamente ininteligíveis.
Será que diz ou deixa de dizer o mesmo a outras?


Nunca me senti tão sozinha, eu e meus segredos, e agora já não há mais meus, apenas, nossos amigos, e ninguém para me ouvir falar dele.
Ele, motivo de discórdia, razão da ‘sozinhez’ repentina, das grosserias e brigas cada vez mais constantes, que breve resultarão num rompimento de algo que lutei tanto para fazer dar certo, algo que consegui trazer a mim, vitória em meio a tantos fracassos, percalços...
Não desejo passar novamente por todo o drama adolescente que envolve a paixão, já tenho amor, já tenho a calmaria.


Que se apague o dia em que nossos olhares se cruzaram naquele trem, aquele bilhete com nome impresso errado, aquela poltrona no corredor, que praguejei ter tido o azar de me escolherem para ocupar.
Queria voltar no tempo, sentar ao lado dos velhinhos franceses, dormir a viagem inteira, retornar entediada, não trazendo da viagem mais do que algumas paisagens mentais e um coração ainda de pedra.

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